miércoles, 17 de septiembre de 2008

São Paulo, por W. Olivetto

Alguns dos meus queridos amigos cariocas têm mania
de achar São Paulo parecida com Nova York.

Discordo deles. Só acha São Paulo parecida com
Nova York quem não conhece bem a cidade. Ou melhor, quem a
conhece superficialmente e imagina que São Paulo seja
apenas uma imensa Rua Oscar Freire.

Na verdade, o grande fascínio de São Paulo é
parecer-se com muitas cidades ao mesmo tempo e, por isso
mesmo, não se parecer com nenhuma.

São Paulo, entre muitas outras parecenças, se
parece com Paris no Largo do Arouche, Salvador na Estação
do Brás, Tóquio na Liberdade, Roma ao lado do Teatro
Municipal, Munique em Santo Amaro, Lisboa no Paris, com o
Soho londrino na Vila Madalena e com a pernambucana Olinda
na Freguesia do Ó.

São Paulo é um somatório de qualidades e
defeitos, alegrias e tristezas, festejos e tragédias. Tem
hotéis de luxo, como o Fasano, o Emiliano e o L'Hotel,
mas também tem gente dormindo embaixo das pontes.

Tem o deslumbrante pôr-do-sol do Alto de Pinheiros
e a exuberante vegetação da Cantareira, mas também tem o
ar mais poluído do país. Promove shows dos Rolling Stones
e do U2, mas também promove acidentes como o da cratera do
metrô e o do avião da TAM em Congonhas.

São Paulo é sempre surpreendente. Um grupo de
meia dúzia de paulistanos significa um italiano, um
japonês, um baiano, um chinês, um curitibano e um
alemão.

São Paulo é realmente curiosa. Por exemplo: tem
diversos grandes times de futebol, sendo que um deles leva
o nome da própria cidade e recebeu o apelido 'o mais
querido'. Mas, na verdade, o maior e o mais querido é
o Corinthians, que tem nome inglês, fica perto da
Portuguesa e foi fundado por italianos, igualzinho ao seu
inimigo de estimação, o Palmeiras.

São Paulo nasceu dos santos padres jesuítas, em
1554, mas chegou a 2007 tendo como celebridade o permissivo
Oscar Maroni, do afamado Bahamas.

São Paulo já foi chamada de 'o túmulo do
samba' por Vinicius de Moraes, coisa que Adoniran
Barbosa, Paulo Vanzolini e Germano Mathias provaram não
ser verdade, e, apesar da deselegância discreta de suas
meninas, corretamente constatada por Caetano Veloso,
produziu chiques, como Dener Pamplona de Abreu e Gloria
Kalil.

São Paulo faz pizzas melhores que as de Nápoles,
sushis melhores que os de Tóquio, lagareiras melhores que
as de Lisboa e pastéis de feira melhores que os de Paris,
até porque em Paris não existem pastéis, muito menos os
de feira.

Em alguns momentos, São Paulo se acha o máximo,
em outros um horror.

Nenhum lugar do planeta é tão maniqueísta.

São Paulo teve o bom senso de imitar os botequins
cariocas, e agora são os cariocas que andam imitando as
suas imitações paulistanas.

São Paulo teve o mau senso de ser a primeira
cidade brasileira a importar a CowParade, uma colonizada e
pavorosa manifestação de subarte urbana, e agora o Rio
faz o mesmo.

São Paulo se poluiu visualmente com a Cow Parade,
mas se despoluiu com o Projeto Cidade Limpa.

Agora tem de começar urgentemente a despoluir o
Tietê para valer, coisa que os ingleses já provaram ser
perfeitamente possível com o Tâmisa.

Mesmo despoluindo o Tietê, mantendo a cidade
limpa, purificando o ar, organizando o mobiliário urbano,
regulamentando os projetos arquitetônicos, diminuindo as
invasões sonoras e melhorando o tráfego, São Paulo
jamais será uma cidade belíssima. Porque a beleza de São
Paulo não é fruto da mamãe natureza, é fruto do trabalho
do homem.

Reside, principalmente, nas inúmeras oportunidades
que a cidade oferece, no clima de excitação permanente, na
mescla de raças e classes sociais.

São Paulo é a cidade em que a democratização da
beleza, fenômeno gerado pela miscigenação, melhor se
manifesta.

São Paulo é uma cidade em que o corpo e as mãos
do homem trabalharam direitinho, coisa que se reconhece
observando as meninas que circulam pelas ruas.

E se confirma analisando obras como o Pátio do
Colégio (local de fundação da cidade), a Estação da
Luz (onde hoje fica o Museu da Língua
Portuguesa), o Mosteiro de São Bento, a Oca, no
Parque do Ibirapuera, o Terraço Itália, a Avenida
Paulista, o Sesc Pompéia, o palacete Vila Penteado, o
Masp, o Memorial da América Latina, a Santa Casa de
Misericórdia, a Pinacoteca e mais uma infinidade de
lugares desta cidade que não pode parar, até porque tem
mais carros do que estacionamentos.

São Paulo não é geograficamente linda, não tem
mares azuis, areias brancas nem montanhas recortadas.

Nossa surfista mais famosa é a Bruna, e nossos
alpinistas, na maioria, são sociais.

Mas, mesmo se levarmos o julgamento para o quesito
das belezas naturais, São Paulo se dá mundialmente muito
bem por uma razão tecnicamente comprovada.

Entre as maiores cidades do mundo, como Tóquio,
Nova York e Cidade do México, em matéria de proximidade
da beleza, São Paulo é, disparado, a melhor.

6 comentarios:

Anónimo dijo...

Descrição muito bonita de Washington Olivetto, paulista, paulistano e publicitário.

Washington Luiz Olivetto (São Paulo, 29 de setembro de 1952) é um publicitário brasileiro, responsável por algumas das campanhas mais marcantes da propaganda nacional.

Cursou a faculdade de publicidade pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), mas nunca concluiu. Redator, começou a carreira na Harding-Jiménez, depois passaria a trabalhar na Lince e na DPZ, em 1974, onde ganharia o primeiro leão de ouro da publicidade nacional no Festival de Cannes, com o filme Homem com mais de quarenta anos. Na mesma agência, faria dupla de criação com o diretor de arte Francesc Petit e realizou inúmeros trabalhos premiados. A dupla ainda foi responsável pela criação do garoto-propaganda da Bombril, com o ator Carlos Moreno, que acabou indo parar nas páginas do Guinness Book como o garoto-propaganda de maior tempo de permanência no ar ao longo dos anos, a partir do décimo sexto ano de execução e mais de 160 filmes. Ainda na DPZ chegou a ser diretor de criação.

Saiu da DPZ para associar-se à agência de publicidade suíça GGK (tornando-se W/GGK), em 1986. Junto com os sócios Gabriel Zellmeister e Javier Llussá Ciuret, passariam a ter o controle total da agência e passaria a ser chamada de W/Brasil. Posteriormente, teria filiais nos Estados Unidos (W/USA), Portugal (W/Portugal) e Espanha (Alta Definición & Washington Olivetto, ou W/Espanha). A W/Brasil se tornaria uma das agências mais premiadas do mundo, com quase 1.000 prêmios, entre Leões no Festival de Cannes, Clio Awards, CCSP e outros. Ganhou 49 leões de Cannes (entre ouro, prata e bronze). Na W/Brasil, foi responsável pela criação de vários comerciais memoráveis, entre eles os filmes para a fabricante de sapatos Vulcabrás, o cachorro da Cofap, o casal Unibanco, entre outros. Os filmes Hitler (1989), para a Folha de São Paulo (o filme Hitler foi criado por Nizan Guanaes), e do Primeiro Sutiã (1988), para a Valisère, são os únicos comerciais brasileiros a constarem na lista mundial dos 100 maiores comerciais de todos os tempos.

Em 2005, foi lançada a biografia da sua empresa, Na toca dos leões, escrita por Fernando Morais, que narra sobre a sua vida e o seu seqüestro, no final de 2001. É diretor de criação e presidente da W/Brasil.

Anónimo dijo...

Querida cara meada:

Nao acredito que me digas eso después del finde que me has dado....confío en que estos últimos días sean más agradables para ambas...
Moza dominguera no quiere lunes...¿o sí?
Ahí queda eso.
Besos con queso

Mr art dijo...

Post Perfeito,adorei!

Vladu dijo...

guau! cuánta verdad!

M dijo...

Qué chulo Eva!!!! Aunque Olivetto no habrá estado en el Brooklin o no lo considera NY, pero bueno... porque allí también hay muchos contrastes, no es solo la 5ªavenida!!!!

Me encanta ver gente que publicita las cosas buenas que hay en el mundo y no solo las malas, como en las noticias!!!!!!!

Un beso y buen regreso!!!

Anónimo dijo...

tras mas de 3 años de vuelta en mi tierra: en España, y dejado atrás mi querido sao paulo... no puedo dejar de leer este texto y añorar lo que durante un año toqué y no puedo tener más.